terça-feira, 18 de junho de 2013

Relato do que eu vi

Ontem, 17 de junho, eu estava lá. Fazia 13 anos que eu não ia a uma passeata. E o que eu vi foi realmente algo novo. Diferente do que tínhamos no final dos anos 1990 durante o Fora FHC, não se tratava de um movimento organizado no sentido em que entidades reúnem ônibus e levam seus militantes orgânicos às ruas. A maioria era cidadãos comuns, que saíram do trabalho ou da escola e foram à rua. Não havia carro de som, bandeiras eram poucas, e a maioria levava cartazes em cartolina.

Esta falta de "organização" explica a ausência de uma pauta clara, mas neste momento é uma boa notícia. O que vimos ontem, e o que estamos vendo, é uma insatisfação em busca de uma significação. Insatisfação da sociedade, pressionada por um estado ineficiente e tomado por burocratas e corruptos de alto a baixo, e por um mercado cruel e incapaz de assegurar a dignidade humana. Ou como diria Habermas, a expressão de um mundo da vida colonizado e aprisionado pelo sistema.

Por ser uma insatisfação difusa, reuniu de tudo. A nossa primavera tem mais de maio de 1968, em seu significado anti-burocrático, e menos de primavera árabe. Por isso, hoje, no Day After, começam alguns questionamentos, especialmente de militantes da ultra-esquerda contra o espírito apartidário do movimento. Por isso a perplexidade dos políticos tradicionais. Sinto informar, mas o apartidarismo é reflexo da ausência de democracia dentro dos partidos políticos, que impedem um fenômeno como Obama, imposto de baixo para cima nas primárias do partido democrata.

Do processo iniciado ontem, os políticos tradicionais são os maiores perdedores. Por que não adianta mais vender de forma marqueteira a redistribuição de renda, os programas sociais ou o Plano Real como ponto de chegada da política. Estes se tornaram ponto de partida, e ganhará quem puder apontar caminhos para o futuro, permitindo a destruição criativa que só a democracia e a inclusividade das instituições podem fazer com a economia. Justamente por isso, os partidos da ultra-esquerda, especialmente PSTU e PSOL, sairão desta do mesmo tamanho que entraram. Eles têm o mérito de estar ao lado das manifestações desde o começo, mas também não entenderam o seu significado. E, diferentemente do que as vozes do conservadorismo insistem em gritar, não são eles que lideram o processo.

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