sábado, 15 de junho de 2013

O problema do transporte público

Não é de hoje que se reclama do transporte público em São Paulo. E não dá para negar que o tema tem recebido bastante atenção nos últimos anos. Basta ver que o principal ponto que levou Haddad à prefeitura foi o transporte público - a promessa de bilhete único mensal e o desmonte da proposta de passagem proporcional de Russomanno.

Contudo, o período mais recente foi marcado por uma combinação de crescimento da demanda, especialmente pela inserção da nova classe média - ou nova classe trabalhadora, como diria Jessé Souza -, sem crescimento equivalente nos investimentos. Dados da Secretaria de Transportes Metropolitanos atestam que o número de passagens no sistema sobre trilhos (Metro + CPTM + ViaQuatro) sob gestão estadual cresceu 20% entre 2010 e 2012, atingindo 2 bilhões de passageiros. O sistema da SPTrans, por sua vez, embora esteja estagnado no mesmo período, transporta 2,9 bilhões de passageiros por ano.

Uma explicação para este fenômeno está na maior inserção da classe C no mercado de trabalho. De acordo com o IBGE, o total de pessoas ocupadas, isto é, com um emprego formal, na Região Metropolitana de São Paulo cresceu nos últimos dez anos de 7,58 milhões de pessoas (abril 2003) para 9,5 milhões (abril 2013). Esses dois milhões de pessoas a mais trabalhando estão pressionando a demanda pelo transporte público.

Esta demanda foi beneficiada por alguma forma de subsídio. De acordo com a STM, o percentual de passageiros pagantes no sistema caiu de 79% para 70% desde a implantação do Bilhete Único em 2005. Os 30% restante se dividem entre passageiros gratuitos - especialmente idosos - subsidiados - estudantes, bilhete fidelidade - e integrações intermodal.

Contudo, o elemento da percepção de custo se traduz não só no mero atendimento, mas no conforto obtido em termos de tempo e condições de viagem. O Metrô de São Paulo transporta 8,6 pessoas por metro quadrado. Isto porque a disponibilidade de transporte, apesar de crescente, não consegue dar conta da demanda. O resultado é que, para o usuário, estamos diante de um serviço de qualidade cada vez pior.

A solução do transporte pública esbarra nos conflitos políticos estéreis entre governo e oposição. A integração entre Metrô e SPTrans no Bilhete único atrasou em um ano porque a prefeita de São Paulo era do PT, e o governador do PSDB. O acordo só foi fechado em 2005, quando o partido controlava prefeitura e governo. As greves lideradas pelo sindicato dos metroviários, controlado pela Conlutas (PSOL/PSTU), também pressionam os custos e geram transtornos para o usuário.

Logo, o problema não está no custo, mas na relação custo benefício. Um exemplo está na solução encontrada pelos próprios usuários, o transporte por fretamento. No deslocamento Mogi das Cruzes-São Paulo, o usuário aceita pagar mais de R$ 300/mês por um transporte de qualidade, em detrimento de R$ 150/mês no sistema CPTM. A percepção de valor entre um e outro serviço, caracterizada em tempo de deslocamento e condições de viagem, eleva a predisposição do consumidor em arcar por um serviço mais caro.

Neste sentido, o problema para o usuário de transporte público é que os sucessivos reajustes de passagem não se traduzem em melhoria do serviço. Assim, pagar R$ 3,20 por um ônibus ou metrô superlotado se torna caro, ainda que isto represente um alto custo para o estado em termos de subsídios.

Qual a saída? Sem um compromisso público, assegurado por mecanismos de controle social e de transparência, com a melhoria da qualidade do transporte público, os R$ 0,20 de aumento seguirão custando muito caro às autoridades insensíveis.

Um comentário:

  1. Paulo,

    Muito bom o diagnóstico.
    Valeria a pena fazer algo parecido para as principais metrópoles brasileiras, adaptando suas variáveis próprias.
    Aliás, será que alguém ou algum órgão já não fez algo nesse rumo?
    Valeria a pena conferir.

    Um abraço.

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