quarta-feira, 26 de junho de 2013

A democracia se defende

Nas semanas que se passaram, em diversos momentos levantou-se a dúvida sobre o risco da democracia. Quando os governos decidiram baixar o sarrafo nas manifestações, quando grupos de inspiração pouco democrática tentaram atacar fisicamente partidos políticos; ou nas idas e vindas da Constituinte exclusiva, cada um desses momentos foi interpretado como um risco à democracia.

E contudo, olhando para trás, o que vemos é o vigor do processo democrático. As manifestações não puderam ser impedidas por ninguém - nem pela CBF, cujo presidente é um conhecido torturador da ditadura. Os governos e, desde ontem, até o Legislativo, foram obrigados a ceder. E o que temos neste momentos é um amplo processo de transformação institucional.

Eu disse lá atrás e repito agora que nossa cultura de participação política cidadã precisa evoluir para que a democracia cresça. Mas é inegável que, além de instituições democráticas fortes, eleições livres e alternância de poder, o Brasil conta com mecanismos de segurança que defendem a democracia dos riscos.

Um deles é o fato de que nenhum grupo político ou social tem poder suficiente para afastar seus adversários do jogo democrático de forma definitiva. Nem o partido no poder, nem a oposição, nem o Judiciário, nem as ruas, nem o poder econômico, nem ninguém. Nem mesmo a grande mídia.

Este equilíbrio de poder de fato obriga os atores políticos a construírem acordos para sobreviver. E o sinal de que um acordo é bom é se ninguém sai satisfeito totalmente com ele.

Outro aspecto é a memória da ditadura e a reação a ela. Toda vez que há sinal de risco para a democracia, a sociedade reage. Foi assim no dia 17, quando as ruas foram tomadas em resposta à brutalidade policial do dia 13. Não foi uma resposta com medo, mas com uma coragem tal que acuou os governos.

Por fim, um aprendizado que deve ficar desses dias: os políticos funcionam melhor quando acuados. Quando as pessoas tomaram as ruas, a pauta política melhorou: saiu dos conchavos palacianos e incorporou as demandas da sociedade. Ontem a Câmara aprovou uma destinação dos royalties do petróleo que havia sido rejeitada meses atrás.

E a democracia brasileira termina junho melhor do que começou.

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