domingo, 16 de junho de 2013

O problema da democracia brasileira somos nós

A revista Economist publica anualmente o seu Democracy Index, que busca classificar quão democráticos são os países do mundo. A classificação deles considera quatro grupos de países: democracia plena, democracia imperfeita, regimes híbridos e regimes autoritários. Pelo critério da Economist, estamos no segundo grupo. A primeira vista, queremos acreditar que o problema está neles, nos políticos, e isto é em parte verdade. Mas quando decompomos o índices brasileiro, percebemos que eles não estão sozinhos.

O índice avalia e gera indicadores para quatro fatores: processo eleitoral e pluralismo, funcionamento do governo, participação política, cultura política e liberdades civis. Vejamos as notas que o Brasil recebe em cada um destes aspectos, em uma escala de 0 a 10:

  • Processo eleitoral e pluralismo: 9,58
  • Funcionamento do governo: 7,50
  • Participação política: 5
  • Cultura política: 4,38
  • Liberdades civis: 9,12

Ou seja, de acordo com a Economist, estamos muito bem nos aspectos institucionais - eleições e liberdades civis - razoáveis no funcionamento democrático do governo, mas vamos muito mal na participação política e na cultura política. Na definição da área de inteligência da publicação, "uma cultura de passividade e apatia, cidadãos obedientes e dóceis, não são consistentes com a democracia". E ainda mais: "A democracia floresce quando cidadãos querem participar do debate público, eleger representantes e participar de partidos políticos".

Estas palavras do relatório da Economist deveria servir de alerta para nós. Nos últimos dias tenho percebido a resistência de abordagens partidárias diante dos fatos que vimos nas maiores cidades do Brasil. Para alguns, a manifestações estão erradas por que são "petistas", para outros porque são "tucanas" ou "de classe média". Na verdade, para a principal porta-voz do capitalismo mundial, o problema está na cultura que leva alguns a desqualificar a prática da manifestação.

Estamos em uma democracia jovem, e precisamos aprender a usá-la a nosso favor. Já avançamos muito: temos alternância de poder, sem risco de golpe de estado, e membros do partido no poder chegaram a ser condenados por corrupção, sem que isso abrisse uma crise institucional. Agora, nós cidadãos, precisamos aprender a não dar descanso aos políticos.

A grande descoberta da democracia ocidental é que governos funcionam melhor quando são submetidos a constante pressão. Por isso, nas democracias plenas, todo o espectro ideológico vai às ruas. O Tea Party nos Estados Unidos ou os opositores ao casamento gay na França talvez fossem considerados arruaceiros no Brasil. Mas talvez o problema esteja aqui, naqueles que querem resolver o problema votando a cada quatro anos e esquecendo o assunto neste interregno. Por isso, aquele que faz passeata "atrapalha o trânsito", e quem vaia a presidente é "classe mérdia" ingrata.

O grande avanço que estamos tendo no Brasil é desvinculação da participação política de uma pauta partidária. As manifestações não são de petistas ou tucanos, são de índios, sindicalistas, religiosos, homossexuais, ciclistas, usuários de transporte público. E agora, as manifestações são pelo direito de se manifestar. O próximo passo talvez seja convencer os que reclamam do trânsito ou das vaias de que eles não precisam de polícia, mas de tomar as ruas, também eles.

Nenhum comentário:

Postar um comentário