quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Sobre inflação, juros, câmbio e a decisão do BC

Os economistas ligados ao mercado financeiro estão em polvorosa com a decisão de ontem do Banco Central, de reduzir os juros Selic em 0,5 ponto percentual. Neste alvoroço, pouco importa se são neoliberais, keynesianos ou estruturalistas: Luís Carlos Mendonça de Barros e Gustavo Loyola estão do mesmo lado. Qual a acusação: o Banco Central deixou de ser independente. Qual o motivo: reduziu a taxa de juros. Esta decisão era prevista desde a semana passada, e surpreende o alvoroço em torno dela. Quando, no entanto, vemos que os críticos mantém conexões com o mercado financeiro, as razões da crítica tornam-se mais evidentes.
Vamos primeiro avaliar se a crítica procede. Na segunda-feira, o governo anunciou um aperto fiscal, ampliando a meta de superávit primário, alegando ser uma medida para conter pressões inflacionárias. Na quarta o BC reduziu os juros, alegando que haverá alívio das pressões inflacionárias. Os dois lados têm razão.
O governo tradicionalmente conta com dois instrumentos para contenção da inflação: política monetária e política fiscal. Cada um contém determinadas pressões de demanda, seja pela restrição de crédito (monetária), seja pela restrição do gasto público (fiscal). Contudo, elas causam impactos diferentes no câmbio. Uma política monetária restritiva, pela alta de juros, atrai dólares, e pressiona o câmbio para baixo. Uma política fiscal restritiva, por sua vez, tem em geral impacto nulo sobre o câmbio. A opção do governo brasileiro foi pela contenção que não afeta o câmbio. Do ponto de vista da economia real, fez certo.
Ora, por que então o alvoroço? Porque o investidor internacional que investe em reais ganhou duas vezes nos processos de valorização cambial: ganhou com o retorno do investimento e com a valorização do real. Se alguém investiu US$ 100 em títulos em reais a juro zero em 31 de agosto de 2010 e realizou o investimento um ano depois, recebeu US$ 10,58 só com a valorização do câmbio. Ao optar por não mexer no câmbio, o governo diz ao mercado financeiro que os ganhos com a valorização acabaram.
Entendeu?

Nenhum comentário:

Postar um comentário