terça-feira, 17 de março de 2015

Depois não digam que não avisei

Em 19 de junho de 2013, neste blog, ao postar sobre o apartidarismo das manifestações daquele período em comparação com uma turma apartidária da USP na greve de 2000, afirmei:

"Hoje vejo o discurso apartidário se voltar contra uma nova geração de manifestantes como se voltou contra aquela. E isto me preocupa. Esta postura não abriu o diálogo: pelo contrário, afastou aquela geração da direção do movimento daquele momento."

Em 20 de junho, eu disse:

"O que estamos vendo nas ruas é uma insatisfação antiburocrática. O Movimento Passe Livre, cuja identidade ideológica é mais alinhada a uma certa esquerda tradicional, abriu as portas para uma insatisfação maior, que não cabe no programa da ultra-esquerda. Aliás, não cabe em nenhum programa, nem mesmo no da Rede de Marina Silva."

Em 23 de junho, quando manifestei meu inconformismo com o rótulo recém criado de coxinhas, reforcei que o sectarismo naquele momento não ajudaria em nada:

"Gente tão ortodoxa quanto caixa de maisena percebeu que a pauta de quem aderiu às manifestações não era a mesma deles, que estavam na luta desde antes, quando ninguém notava. "Nós nunca dormimos", dizem, como quem consome mais de dez xícaras de café para ficar acordado. Os "maisenas" não entenderam que eles são uma espécie de relógio quebrado, parado, que marca a hora certa duas vezes ao dia. Não foi o relógio que acertou, foi o tempo que coincidiu com o relógio. As manifestações pelo passe livre coincidiram com uma insatisfação latente em toda uma camada na sociedade, e a fizeram explodir. Diante disso, os maisenas tinham duas opções: entendê-los para liderá-los, ou tentar encaixá-los em sua ortodoxia. Optaram pela segunda escolha, e quebraram a cara."

Em outubro de 2013, eu já sinalizava a ruptura entre os novos ativistas de junho e a vanguarda radical, que se aventura na aventura black bloc:

"Contudo, a vanguarda formada em dez anos de mobilização pós-moderna viu nos seus novos parceiros um perigo, e confundiu as coisas. Desencadeou-se a campanha contra os “coxinhas”, que atuou para desmobilizar de imediato e retomar o movimento apenas com velhos companheiros. O auge desta separação ocorreu durante a Jornada Mundial da Juventude, quando radicais trataram de ofender o espírito religioso da nova classe média, sem entender que o espírito de Francisco estaria ao lado deles."

Um ano depois, quando os arautos da esquerda anunciavam a morte de junho após a eleição, eu lembrava:

"o eleitor mais jovem é mais progressista e mais anti-governo que o eleitorado geral. E outra: junho pode ter representado uma ruptura entre a classe C e o lulismo, em prol de opções mais alinhadas ao seu perfil conservador."

Ou seja, os sinais de que havia uma insatisfação latente na sociedade estava todos aí. Eu não sou um gênio, estava apenas olhando para os fatos. Quem errou foi quem usou os óculos da ideologia para analisá-los.

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